11.2.09

TODAS AS CARTAS DE AMOR por Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

1.2.09

O VIVER DA MORTE por Paulo de Tarso Jr.

Ela está por aí. Em qualquer canto, em qualquer lugar, em qualquer sombra. A Morte nos observa, mesmo que timidamente. Timidez. Ela é tímida, por que não? Você não a percebe, mas ela te observa. Claro que ela não tem olhos única e exclusivamente para você, porque o trabalho dela é nos levar para um lugar que não seja material. Impossível de ser tocado.


Ao nascer, já sabemos qual será nosso destino final nesta terra: a companhia da Morte. No entanto, os dias passam e começamos a não acreditar nela porque ainda não perdemos pessoas importantes. Duvidamos, então, da sua existência. Imaginamos que ela esqueceu nos esqueceu. Que a nossa família e os nossos maiores e melhores amigos não fazem parte da lista que ela carrega consigo. Impossível isso acontecer. Tentamos fugir com todas as nossas forças dela, mas sempre é em vão, porque com o passar do tempo, acreditamos que viveremos mais e mais. Não sei se a cada dia, eu tenho um dia a mais de vida ou um dia a menos neste planeta. E quem sabe?


Assim foi comigo. Sempre vi a morte trabalhar em outros lares e ambientes. Longe de mim, graças a Deus. Talvez por isso, quando ela bateu à porta de pessoas queridas por mim, não estava preparado para dizer adeus. Quer saber, não tem nada de talvez. Foi isso que ocorreu comigo. Perdi alguém que nunca imaginei perder. Ainda acordo, tentando acreditar que nada daquilo é verdade. Que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto. Pena que não é. Mas se eu sabia que isso iria acontecer qualquer dia, por que a o espanto? Esse não é o trabalho da Morte? O pior que é.


Percebi então, que vida e morte se misturam e se completam, mesmo sem querermos. A Morte está viva e não tenho dúvidas disso. A única coisa que podemos fazer para amenizar seu efeito em nossas vidas é aproveitar, não apenas um determinado momento, mas cada milésimo de segundo que ainda nos resta como meros mortais. Aproveitar a companhia dos verdadeiros amigos. Aquela conversa com nossos pais. Aquele banho de chuva enquanto matamos a saudade dos tempos de criança. O beijo da mulher que sempre desejamos ter em nossos braços. A sensação de acreditar na felicidade. De olhar nos olhos de alguém e dizer que aquela pessoa é fundamental para nossa vida e que não importa o que aconteça, ela sempre fará parte do nosso coração.


Enquanto isso tudo acontece, a Morte vive em qualquer canto, em qualquer lugar, em qualquer sombra. Assim, devemos ser fortes e guardar nossas recordações no único local em que elas não serão levadas para longe da gente como os grãos de areia que o vento leva a cada sopro. E esse local é o nosso próprio coração. Pense nisso!!!